quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Os desafios de morar sozinha - Parte I



Morar sozinha é não poder reclamar do barulho, porque ninguém vai te ouvir e se tu fizer isso no meio da rua é bem provável de receber um olhar meio estranho. Essa coisa que eu chamo de chafariz fica ligada o dia todo. Eu já tentei imaginar o quanto de água sai dali por minuto, mas é incalculável, então eu abstraio essa parte. A parte do barulho é que não dá pra abstrair às vezes. Confesso que já to íntima desse som de água caindo na pedra, mas quando ele para é que me dou conta de como o silêncio é importante e de como é bom poder dividir nossas percepções com alguém. Aqui não faz sentido reclamar do barulho ou da calmaria, simplesmente porque estaria sendo “chien” (chata) ao fazer isso pela internet com meus amigos. Daí posso entender o que é ter olhares e sentidos que ninguém mais tem (e não sei se tem porque há coisas que não podem ser contadas em tempo real). Não é ruim, parece só um pequeno tempo em que estar sozinha faz parte de um estar no meio de tudo. E eu escolho como bem me convém o que fazer com o barulho: me irritar ou laisser passer.

Primeira viagem



Estive em Paris do dia 20 até o dia 24. Tinha um encontro marcado há cinco meses com a minha amiga Renata. E voilà! Foi melhor do que o esperado. Paris é fantástica não pelo Louvre, ou pela Torre, ou pelas igrejas. Oui, penso que Paris é a melhor porque em cada esquina se encontra um pouco de arte, e não é uma arte que é feita pra ser exposta num museu, são detalhes e detalhes como uma maçaneta e como um “bonne journée” dito por um senhor no mercadinho da esquina. Meus olhos não ficaram acostumados com isso e acho que visitando Paris nunca se fica. É normal passar por uma rua até então desconhecida e falar “nossa, isso aqui é muito legal”. É por isso que dizem que Paris se pode visitar muitas e muitas vezes, sem nunca conhecê-la completamente. Agora, caminhar o dia todo até doer, se sentir exausta e conseguir rir ao lado da amiga é aquilo que me faz ter vontade de viver mais.
Nesse último passeio que fiz por lá tive a sorte de conhecer alguns franceses. Eu, Rê, Gi e Pati descolamos até uma festinha à la francesa. Isso quer dizer electro e funk. Bizzare! Eles adoram o nosso funk do Tropa de Elite e conhecem muito bem a dança do creu. Também tivemos a maravilhosa oportunidade de fazer um piquenique à noite, olhando a Eiffel iluminada que nos piscava às vezes. Nessa noite descobrimos dois grupos de samba, um de Paris e outro de Londres. Eles tão aí pra ensinar o povo a sambar e a conhecer a nossa música. O mais legal é que têm franceses e outras nacionalidades que fazem parte da música, eles tocam uma espécie de bandolim como se fosse cavaco (não lembro o nome).
Uma das melhores partes foi, sem dúvida, o passeio de bateau mouche pelo Sena quando já era noite. Ficamos uma hora dentro do barco, olhando maravilhadas aquelas luzes, as pontes, as pessoas que festejavam qualquer coisa na beira do rio, os namorados com vinho e os outros barcos finos que passavam por nós. O negócio é surreal mesmo, se pensa que é um sonho uma cidade construída dessa forma e contando com a torre pra dar o charme luminoso. Mas convenhamos, Paris é muito mais, as luzes vêm das pessoas também.