Morar sozinha é não poder reclamar do barulho, porque ninguém vai te ouvir e se tu fizer isso no meio da rua é bem provável de receber um olhar meio estranho. Essa coisa que eu chamo de chafariz fica ligada o dia todo. Eu já tentei imaginar o quanto de água sai dali por minuto, mas é incalculável, então eu abstraio essa parte. A parte do barulho é que não dá pra abstrair às vezes. Confesso que já to íntima desse som de água caindo na pedra, mas quando ele para é que me dou conta de como o silêncio é importante e de como é bom poder dividir nossas percepções com alguém. Aqui não faz sentido reclamar do barulho ou da calmaria, simplesmente porque estaria sendo “chien” (chata) ao fazer isso pela internet com meus amigos. Daí posso entender o que é ter olhares e sentidos que ninguém mais tem (e não sei se tem porque há coisas que não podem ser contadas em tempo real). Não é ruim, parece só um pequeno tempo em que estar sozinha faz parte de um estar no meio de tudo. E eu escolho como bem me convém o que fazer com o barulho: me irritar ou laisser passer.
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